Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro – Dicas pra se candidatar

Você está na luta pra se inscrever na Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro? Não sabe bem pra quem pedir as cartas de recomendação, está se descabelando pra sinopse caber em uma página e está em dúvida quanto ao tom dos seus essays?

Pra iluminar um pouco o caminho de quem almeja ser um bolsista da Fulbright, tive o prazer de conversar com três ganhadoras da bolsa e entender melhor como tornar uma candidatura mais forte.

Mariana Tesch foi contemplada em 2012, Amanda Baião e Clarissa Appelt, em 2017. Elas conversaram comigo sobre os principais pontos do processo de inscrição, contando como foi a experiência delas e dando dicas valiosas.

Neste post não vou explicar do que se trata essa bolsa e nem como você pode se inscrever, isso tudo você encontra neste link.
Aqui você encontra dicas complementares de pessoas que passaram pelo processo e podem dar uma visão mais particular e detalhada de cada passo.

O post é longo. Caso você queira pular direto pra sessão que mais te interessa, as informações estão divididas assim:

  1. Perfil das bolsistas
  2. Writing Samples
  3. Essays
  4. Recommendation Letters
  5. University Preference
  6. Entrevista
  7. Dicas finais

 

1. Perfil – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Você já se perguntou se tem o “perfil certo” pra ser ganhar a Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro? Mas será que existe isso?

Mariana se formou na Universidade de Brasília e fez Mestrado em Educação no Rio. Trabalhava com edição e nunca havia atuado profissionalmente como roteirista.

Ela acredita que não há um perfil específico de bolsista, inclusive no seu ano, quando quatro candidatos foram contemplados, dois deles já tinham bastante experiência e crédito em obras, enquanto os outros dois (ela inclusive), haviam feito apenas trabalhos pontuais de pouca repercussão.

Amanda se formou em jornalismo no Rio de Janeiro, fez curso de extensão em cinema e um curso intensivo de roteiro dado pela Columbia University. Trabalhou também como redatora de tv e roteirista em algumas salas. 

Já Clarissa, também do Rio, fez faculdade de Rádio & TV onde realizou três curtas metragens e um longa, como diretora. Depois passou a trabalhar como assistente de direção e agora quer focar na área de roteiro.

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2. Writing Samples – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Esses são os materiais que vão mostrar se você realmente tem jeito pra coisa. Na época da Mariana, era preciso entregar um argumento de longa de 10 a 12 páginas. Já Amanda e Clarissa enfrentaram a angustiante missão de entregar uma sinopse de 1 página e 5 a 7 páginas de roteiro.

Mariana nunca tinha escrito um argumento antes de se candidatar a Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro mas isso não a impediu de se destacar. Se estivesse participando hoje, tendo apenas uma página pra descrever todo seu filme, ela diz que se concentraria na originalidade do projeto e definiria bem os pontos da jornada do herói e se concentrando na storyline principal.

Para as páginas de roteiro, ela acredita que a chave é proporcionar uma leitura agradável e impactante, mostrar que você consegue prender a atenção durante as sete páginas, sem forçar a barra (com mortes, explosões e artifícios do tipo).

Clarissa e Amanda foram nesse mesmo caminho. Clarissa usou um projeto que havia escrito num curso de animação em Nova York, com arcos bem marcados e estrutura em cima da jornada do herói.

Como Amanda disse, ela foi “aristotélica”. Concentrou-se em deixar os pontos de virada bem claros e dar um fechamento à sua história. Como seu projeto se dá num futuro distópico, ela ainda teve o desafio de apresentar bem o universo do filme, para contextualizar o leitor num mundo alternativo.

Ela acredita que a comissão quer ver se você entende de estrutura, se consegue dar um set up claro, mostrar um  personagem com objetivo concreto e sua transformação. Pra chegar no material ideal, pediu muito feedback, especialmente às pessoas que ela sabia que não passariam a mão na sua cabeça.

3. Essays – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Os essays, ou cartas de intenção da Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro, talvez sejam os materiais que menos estamos acostumados a fazer. Afinal, sempre que fazemos alguma redação num processo seletivo, somos bastante formais, corretos, institucionais.

Lá em 2012, a Mariana foi nesse caminho ao fazer seu Personal Statement. Ela se apresentou, disse por que queria o mestrado, mas também o que ela poderia levar de bom pra Fulbright. Só lá nos EUA é que ela foi descobrir que os candidatos costumam escrever cartas super pessoais.

Um colega americano, por exemplo, contou que até a vida adulta fazia xixi na calça e que sua motivação pra escrever vinha de querer superar a vergonha que permeava sua vida.

Ela aconselha a evitar o senso comum e dizer coisas como “desde criança eu queria escrever” ou quero “colocar os meu sonhos no papel”. É preciso focar no que te faz querer escrever coisas específicas.

No Objective Research ela falou do seu interesse pelo cinema independente americano, como queria estudar roteiros que fossem mais alternativos e citou referências de seu gosto. Falou também de seu interesse sobre cinema e educação.

Para Amanda, a comissão quer entender como você consegue identificar nas suas vivências ou propósitos o que te levou a escrever determinadas histórias. Por que ela são significativas pra você? Como você destrinchou seus traumas e fraquezas e ressignificou tudo isso pra criar um roteiro?

Ou seja, para ela, é importante ter uma auto-crítica de autor. Ela afirma: “a pior coisa é escrever o que você acha que eles querem ler. Não, eles querem o que só você pode entregar.”

Complementando, Clarissa afirma: “seja espontâneo e sincero”. Para ela, é crucial que seus writing samples e essays tenham coerência, ou seja, que sua história e sua personalidade estejam de alguma forma implícitas na sua ficção.

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4. Recommendation Letters – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Na parte das cartas de recomendação para a Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro, além de não se demorar muito a escolher alguém, para que a pessoa tenha tempo de escrever com calma, o que é importante considerar?

Pra começo de conversa, é mais importante alguém que conheça você e seu trabalho de verdade, do que alguém com um cargo alto ou título importante.

“O importante é ser alguém que conhece sua pessoa, sua cultura, sua proposta e que possa dizer o quão promissora você é”, diz Amanda. Ela pediu cartas para dois professores americanos que conheceu no curso da Columbia e para o consultor de uma sala de roteiros da qual ela participou.

Mariana pediu para seu orientador da graduação, professora de roteiro da graduação e sua ex-chefe durante o estágio num programa de tv em Mogi Mirim.

Clarissa pediu pra um professor da faculdade, um colega de trabalho da área de audiovisual e um professor da Columbia University que a entrevistou quando ela tentou se inscrever por lá diretamente.

O critério dela: “pessoas que me reconheciam pelo trabalho e poderiam falar sobre mim de forma sincera“.

5. University Preference – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

No formulário de inscrição da Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro você precisa indicar quais são os seus programas de preferência.

Aparentemente não é um item que vai te colocar mais a frente ou não, mas acredito que saber por quê quer ir pra esse ou aquele programa demonstra seu interesse neles, até porque eles podem ser bem diferentes.

Gosta de comédia? Tem interesse por escrever peças de teatro além de roteiros? Quer ter a experiência de dirigir também? Procure programas que vão te proporcionar isso.

Você provavelmente não será julgado pelas escolhas que fizer nessa parte, mas uma pesquisa prévia e aprofundada vai te ajudar muito caso você ganhe a bolsa.

Com ela, você vai se inscrever nos rigorosos processos seletivos das universidades e seus prazos são muitas vezes bem próximos da divulgação dos resultados da Fulbright.

Mariana foi pra Northwestern University cujo curso é voltado pra roteiro de cinema e tv mas também peças de teatro e novas mídias.

Lá ela também teve a chance de dar aulas de roteiro para alunos da graduação e realizar o sonho californiano fazendo um estágio de 10 semanas na cidade, também por conta do programa de mestrado.

Amanda foi aceita no programa da AFI – American Film Institute – que se diferencia por ser multidisciplinar. Os materiais produzidos pelos roteiristas são usados pelos alunos de direção e produção para por em prática seus aprendizados.

Esses trabalhos em grupo simulam bastante as condições reais de trabalho, onde o roteirista precisa aprender a lidar com outros elementos da cadeia de produção.

Já a Clarissa foi pra tão sonhada USC, considerada a melhor escola de cinema do mundo, que formou gente como Brian Grazer e George Lucas.

Além das três citadas acima, opções geralmente sugeridas pela Fulbright são Loyola e Chapman. Pesquise.

6. Entrevista – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Nas três entrevistas, a dinâmica foi muito parecida. Banca cheia de gente (roteiristas, representantes da Capes e da Fulbright) e entrevista feita em inglês e português.

Mariana lembra de ter passado a maior parte dos seus 15 minutos respondendo perguntas sobre seu mestrado de Educação e como pretendia usar o cinema para ensinar. O que a princípio soou estranho, acabou por se revelar o ponto mais forte da sua candidatura.

As perguntas relacionadas a seu argumento foram incisivas: “Será que isso dá um longa? E essa protagonista, ela tem algum problema?”

Apesar do nervosismo, Mariana defendeu seu projeto tentando não se colocar acima de ninguém – nem abaixo. A experiência foi parecida para Amanda e Clarissa, que perceberam também a intenção da banca em pressionar.

Amanda já entrou consciente de que ficaria nervosa: “sei que fico vermelha nessas situações, me empolgo quando começo a falar e quando vou ver estou gesticulando, toda descabelada.” Ela entrou com isso em mente, sabendo que precisava segurar a onda.

A pressão da banca não é à toa, ambas sentiram que eles queriam ver como o candidato lida com a pressão, se consegue defender suas escolhas e manter a coerência.

Para Clarissa, por exemplo, perguntaram muito sobre o fato dela ter mandado um projeto de animação, sendo que seu trabalho anterior mais expressivo (um longa-metragem) era de terror. Eles queriam entender por que ela estava mudando de estilo. Clarissa defendeu suas escolhas afirmando que tinha a liberdade criativa de fazer isso.

Ela acha que defender seu ponto de vista foi positivo: “eles perceberam que eu gostava das minhas ideias, que tinha uma paixão ali e que aquilo era muito importante pra mim. Acho que o mais importante é isso, defender quem você é até o último minuto”.

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PASSOU!!! É festa, é tetra… Não péra…  

Depois que você é aprovado na Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro, imediatamente começa um outro processo, de se candidatar aos MFA das universidades!

As escolas pedem materiais parecidos com o que você entregou para a Fulbright, mas não exatamente iguais, e pode acontecer de você ter menos de um mês pra prepará-los! Portanto, fique esperto!

7. DICAS FINAIS

E A MINHA CONCLUSÃO

Por várias vezes quase desisti de fazer esse post. Achava que ia ser muito nada a ver sair procurando ganhadores da bolsa pelas redes sociais e ficar enchendo o saco atrás de informações. Mas a tarefa se mostrou mais fácil do que eu imaginava e na verdade, um dia depois de fazer o primeiro contato eu já tinha conversado com todas elas.

Além das informações super úteis que recebi, foi muito legal enxergar os seres humanos atrás dos nomes das listas de aprovação.

Vejam só. A Amanda ficou dois anos esperando a bolsa reabrir, e nesse tempo ficou se preparando, escrevendo esboços, pesquisando.

Clarissa é tão motivada e realizadora que saiu da faculdade com um longa-metragem seu (quem faz isso, Meu Deus)! As duas foram as únicas mulheres que passaram pra fase de entrevistas no ano passado (mas também as duas únicas que foram aprovadas). 🙂

E a Mariana me contou também como foi voltar ao Brasil e ter que recomeçar, fazendo freelas de edição por exemplo, até se tornar roteirista full-time.

Nesse café com a Mariana, na uma hora e meia que passei com a Amanda no Skype e na troca de áudios com a Clarissa que ficou lutando com seu celular enquanto me mandava mensagens de um bar em Belo Horizonte, ficou uma certeza:

É esse o audiovisual que eu acredito, cheio de gente generosa, prestativa e talentosa pra caramba.

 

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CONHEÇA MELHOR AS MENINAS

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MARIANA TESCH

Mariana é roteirista e professora de roteiro. Mestre em roteiro pela Northwestern University, com bolsa Capes/Fulbright, mestre em Educação pela UFRJ, bacharel em Comunicação Social com habilitação em Audiovisual pela UnB.Atualmente, desenvolve projetos com a RT Features, Anti Filmes, Birdo, Stink e Operahaus. É consultora do documentário Coroando (Globo FIlmes e Lusco Fusco) e do média-metragem Nevoeiro, contemplado pelo FAC-DF de 2017.

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AMANDA BAIÃO

Amanda se formou em jornalismo pela Puc-Rio, onde
também cursou Cinema. É co-roteirista do filme híbrido CAPOEIRA, UM
PASSO A DOIS e participou também de salas de roteiro de séries de ficção
desenvolvidas para: TV Globo, Turner, Universal Channel e
as produtoras Hungry Man, Conspiração e Giros.
Atualmente, Amanda integra a equipe de roteiristas da série de ficção PERRENGUE, da MTV.

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CLARISSA APPELT

Durante o período em que estudou Rádio e TV na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Clarissa Appelt dirigiu três curtas-metragens (Entregar no Fim do Mundo, CRI4: O Contrato Alienígena e A Bagunça Eterna) e optou, como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), por realizar o seu primeiro longa-metragem, A Casa de Cecília, que acabou selecionado para a Mostra Aurora, seção competitiva de longas da Mostra de Cinema de Tiradentes. Ela continuou a carreira como assistente de direção.

12 thoughts on “Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro – Dicas pra se candidatar

  1. Deyse says:

    Olá
    Amei o texto. Mas… sabe outro medo meu? Passar já é um grande medo porque são tantos processos, mas… vamos supor que eu passe e vá pra la. E quando volta para o Brasil? Como ingressar no mercado? Foi mais fácil pra elas? Mais dificil? Elas comentaram algo a respeito? Seria interessante saber disso tb

    • Andrea Yagui says:

      Oi, Deyse. A Amanda e a Clarissa vão pra lá em agosto. A Mari voltou em 2015 e hoje trabalha apenas com roteiro de ficção, escrevendo e dando aula (eu falo disso mais pro final). Tenho certeza que ter nas costas um mestrado de dois anos numa das melhores universidades do mundo não deixa o caminho de ninguém mais difícil. Mas também não é garantia de emprego nem nada, dado o tamanho do nosso mercado. Como ingressar no mercado é um outro assunto bem extenso, talvez vc encontre mais leitura neste blog: http://originaconteudo.com.br/category/blog-do-matheus-colen/ ou no site da http://abra.art.br agora quanto ao medo disso ou medo daquilo, medo de voltar de um rolê que você nem decidiu ainda se vai se inscrever, isso não pode permear as suas escolhas. Quer ser roteirista? Investe nisso, se informa, estuda, pesquisa concursos e editais, vai atrás. Uma hora a coisa vira. E mesmo virando, o medo vai estar sempre lá, como em qualquer coisa que você deseje muito 😉

  2. Nara says:

    Oi, Andrea! Muito massa! Queria saber como se dá a escolha da universidade, se o candidato pode palpitar ou é uma decisão somente dos financiadores. Vou me inscrever neste ano e queria muito ir para NY, pois tenho família lá. Mas entre as universidades que vc citou, não vi nenhuma de lá. Vc sabe se já teve alguém que foi pra NYU ou pra Columbia? Obrigada!!

  3. Bruna says:

    Amei o post, Andrea! Super bem escrito e explicado. Ainda estou na graduação mas seu post me deu uma motivação legal pros anos futuros! rs

  4. Filipe Carvalho says:

    Que texto lindo e sensível, Andréa. Você conseguiu trazer bastante informação de uma forma muito humana e instigante. Muito obrigado!

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