Escrevendo um piloto de seriado em 6 semanas

como escrever um piloto de seriado

Fraco, passivo e apagado:

É possível criar um bom personagem com essas características?
É SIM!

Foi o que aprendi com a Ellen, uma coachee cuja história quero contar aqui. Em apenas 6 semanas ela escreveu seu primeiro piloto de seriado e eu tive a honra de acompanhar esse processo. Acho que dá uma leitura interessante pois é quase um passo-a-passo de como escrever um piloto de seriado, claro que com suas devidas peculiaridades.

Fizemos um cronograma bem puxado, pois quando me procurou ela tinha apenas o perfil dos personagens, um rascunho de escaleta e um prazo apertado. Por isso, fomos trabalhando ao mesmo tempo no refinamento da trama e no aprofundamento dos personagens em sessões semanais de uma hora (que geralmente viravam 2 sem a gente perceber).

como escrever um piloto de seriado –  começando do começo

Trata-se de uma dramédia com 6 personagens centrais, todos eles atores tentando a vida em São Paulo. Ellen tinha traçado perfis psicológicos muito completos sobre cada personagem e criado arcos para diversas temporadas, no entanto, o que a gente precisava pra escrever o piloto do seriado em si estava faltando: as histórias do episódio estavam muito indefinidas e não dava pra ver (ouvir, sentir) os personagens ainda.

É complicado mesmo, logo no primeiro episódio a gente já quer que o público conheça a fundo toda a complexidade psicológica dos nossos personagens, que ele veja todo o potencial que a gente vê quando olha para nossos rabiscos malucos num caderno qualquer. As cenas acabam ficando expositivas; os diálogos, longos e informativos.

Por isso, peguei no pé da Ellen pra gente definir bem as histórias do episódio antes de escrever qualquer cena. E foi preciso entender bem que “história” num seriado de tv, não é qualquer sucessão de acontecimentos. História tem começo, meio e fim, tem personagem com objetivo e obstáculo e tem conflito (melhor ainda se causado por objetivos contrários de dois personagens).

O primeiro passo foi separar os 6 personagens em 4 histórias (A,B,C e D). A e B tinham dois personagens principais cada, C e D eram histórias mais simples, com um personagem só. Todas as histórias e personagens se interseccionam, mas ainda assim, cada um tem a sua própria linha. Em cada história os protagonistas têm um objetivo interno e externo bem definido, um obstáculo que os impede de conseguir o que querem e um resultado pro conflito. Tentamos tirar das histórias tudo que era explicativo ou que servia exclusivamente pra mostrar quem o personagem é. Isso porque as histórias escolhidas pro piloto já obrigavam os personagens a agir, tomar decisões, lutar – e através dessas ações é que o público vai descobrir naturalmente quem eles são.

Daí fizemos a escaleta de cada história, passo fundamental para escrever um piloto de seriado, sem deixar espaço pro indefectível “depois eu resolvo”. Estou falando daquele momento em que você precisa encontrar uma solução pra trama se desenrolar do jeito que você quer mas ainda não conseguiu, e achando que isso não é importante, deixa pra depois. Por exemplo, você quer mover um personagem de um cenário a outro e não sabe como, então anota “de algum jeito“. Quer que o personagem descubra um segredo e coloca qualquer solução forçada (uma coincidência impossível, um golpe de sorte, um personagem que aparece do nada e deixa o segredo escapar), pensando que pode consertar este detalhe depois. Sabe?

A escaleta da Ellen estava cheia desse tipo de rubrica. Mas a questão é que o jeito como os personagens se movem de cena a cena (como resolvem problemas, como arranjam mais problemas, como mudam de opinião, como desistem de algo) É A HISTÓRIA. E a gente vai conhecer muito mais a personalidade deles vendo como eles AGEM do que através de uma ficha psicológica. Afinal, estamos num seriado de TV e não na poltrona de um analista.  

(Não é que as fichas psicológicas não devam existir, ao contrário, gosto muito delas e você pode baixar algumas opções na área de Downloads Gratuitos. Mas elas são um material de apoio e pesquisa: sozinhas elas não fazem a história acontecer).

como escrever um piloto de seriado – se conectando com os personagens

Quanto ao aprofundamento dos personagens, foi incrível ver a Ellen trabalhar a cada semana. Acredito que pra gente escrever um personagem precisamos entendê-lo como se ele fosse a gente mesmo (porque ele é). Encontrar coisas em comum, emprestar nossos sentimentos, nossa lógica, nossa inteligência. Talvez você não tenha nada a ver com o vilão que está escrevendo, mas certamente há pontos desse vilão com o qual você pode se identificar porque todo mundo já experimentou a frustração, a amargura, a inveja, ou seja lá o que motiva seu vilão.

Fizemos exercícios em todas as sessões pra ela ir encontrando esses pontos em comum. E a Ellen se jogou em tudo que propus, buscando dentro de si os sentimentos que emprestaria aos seus personagens. Alguns dos exercícios que faço cutucam feridas – afinal, drama insípido é só barulho – mas em nenhum momento ela hesitou em revelar suas fragilidades, seus medos, seus erros e até sua raiva.

A raiva, esse sentimento feio, errado, que a gente “não deve ter“, emergiu com tudo enquanto ela escrevia a cena crucial do piloto. Ao invés de se curvar e deixar pra lá, ela ficou. Passou o dia lutando com o papel. Enlouqueceu o namorado. Ao final, se lembrou de um dos exercícios que a gente fez para transferência dos sentimentos do autor para o personagem e repetiu sozinha. Depois ela escreveu a cena ainda achando que não estava bom. Mas escreveu.

O resultado é tão bonito… Ela fez um personagem fraco, passivo e apagado virar um gigante, no momento em que ele admite sua insignificância, sua fraqueza, sua dor. Ele sabe que não é o herói dos filmes de Hollywood, mas ele sabe também que seja lá o que ele for, é verdadeiro. É de arrepiar! Ela provou que não existem regras que não possam ser quebradas se a escrita é inspirada, autêntica, dramática.

Tudo isso foi resultado de muito trabalho duro. Mesmo tendo seu emprego formal, Ellen se manteve no cronograma, fez todos os exercícios que pedi, escreveu muitas páginas e reescreveu muito mais ainda. Mas não foi só o tempo dela que ela dedicou. Ela também doou suas observações singulares da vida, seu humor sarcástico, suas dores mais antigas. Foi muito bonito de ver.

Ninguém entra neste site porque quer ser coach, mas olha, o meu papel é muito legal! Entender o que motiva cada um, sentir a confiança sendo depositada nos métodos que invento, trocar ideias, medos, manias e figurinhas em geral. Ver o alívio quando a frustração vai embora. A luz se acendendo na mente, no entendimento de algo novo. O sorriso quando finalmente aquela ideia preciosa aparece… Se eu fosse uma professora normal diria que é  “gratificante” mas como eu não sou, vou só dizer que é do c***!

Orgulhinho <3

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