Escrevendo um livro – como começar?

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Queria começar um projeto que fosse rápido de terminar. Pensei em reescrever meus posts do blog Histórias na Bagagem e transformá-los em capítulos de um livro. Seria um livro de crônicas sobre morar em Los Angeles, estudar roteiro na UCLA, sobre as pessoas que conheci, coisas engraçadinhas que vi e que pensei. Era pra ser leve, engraçado e de vez em quando ter um ou outro capítulo com um pouco mais de drama. Pensei: “Olha que fácil, estou escrevendo um livro”.

Escrevendo um livro fácil

Trabalhei nele por 2 meses, tinha quase 20 textos prontos. Apesar de gostar bastante de um ou outro, não sentia que eles estavam formando um conjunto interessante. Estava faltando alguma coisa e eu não entendia o que era.

Resolvi então consultar uma tutora de escrita e foi a melhor decisão do mundo. Eu e a maravilhosa Ana Rüsche sentamos durante umas duas horas pra conversar sobre a ideia que eu tinha do livro. Fui contando pra ela sobre as minhas experiências, o quanto significou pra mim ter ido pra Los Angeles, o que aprendi com cada aula, as pessoas que conheci, as situações que passei… Ela me sugeriu então que eu escrevesse uma narrativa única, um livro de memórias que conduzisse o leitor a uma jornada com começo, meio e fim.

Fiquei bem em dúvida, apesar dessa ideia já ter passado pela minha cabeça. Quando se fala em “jornada” na narrativa, estamos falando de resoluções de conflito, arcos dramáticos, pontos de virada, resolução… eu sabia que era possível encontrar esses elementos na minha história, mas sabia também que para escrever sobre eles eu teria que ir muito mais fundo do que as crônicas jamais iriam.

Escrevendo um livro difícil

Eu teria que realmente me transformar num personagem, expor meus defeitos e medos, narrar as incertezas e tristezas que me motivaram a responder ao chamado da aventura. Teria que falar dos aliados e inimigos que conheci e narrar as provações que passei. Levar todas as sequências a culminar num clímax e numa resolução, onde o protagonista aprende alguma coisa.

Poucos aprendizados profundos vem sem dor. Se eu quisesse realmente falar sobre isso, teria que também mostrar a timeline das minhas dores. Eu sei que elas vêm de um lugar muito delicado e fiquei me perguntando se estava pronta pra isso.

Percebi que o primeiro capítulo tinha que começar em São Paulo, com os acontecimentos que me levaram a romper com toda organização que eu tinha construído pra minha vida. Nesta primeira parte vou explicar como foi a decisão de ir pra Los Angeles. As coisas que tinham acabado de acontecer, os rompimentos, as descobertas, o tardio despertar.

Escrevendo um livro difícil mas ai, tão necessário!

Eu chorei compulsivamente escrevendo ele. Nível, soluçando. As lágrimas voavam pra longe de olho, nunca vi isso antes. Mas o estranho é que a dor estava mais no meu corpo do que na minha cabeça. Era ele quem reagia à dor, o meu psicológico estava completamente intacto. A lembrança da dor ainda estava no meu peito e foi maravilhoso deixá-la sair.

Depois disso, pensei novamente na pergunta: estou pronta pra escrever esse livro, abordando todas as questões difíceis que ele me exige? A resposta foi: devo estar. Se fui capaz de escrever sobre coisas doloridas sem que isso se transformasse num gatilho pra uma semana de depressão, então devo estar.

Pensei ainda, que não só estou (devo estar) pronta, como também preciso escrevê-lo. Se depois de anos (o primeiro capítulo acontece em 2013) essas lembranças ainda me fazer chorar com tanto vigor, deve haver algo importante aí, pedindo pra ser revisitado.

Abracei então a sugestão da narrativa única e aqui estamos, escrevendo um livro. Eu, a Ana e agora vocês. Tá, só eu que tô escrevendo um livro, pelo menos o meu, mas eu gosto de pensar que tenho companhia e que não depende só de mim.

Não é mais um projetinho fácil pra desengavetar rapidão. É algo que eu vou deixar crescer lentamente, entender com paciência, errar, sofrer, acertar e refazer. É algo que vai me testar mas também, me ensinar.

Vou deixá-lo ser, o que precisar ser.

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