A parte criativa é essencial no roteiro, mas fica perdida sem a técnica. Para construir uma carreira de roteirista é muito importante dominar bem estrutura, formatação e narrativa. Pode parecer trabalhoso encontrar bons lugares para estudar, mas acredite, hoje em dia já existem muito mais opções de cursos no Brasil do que poucos anos atrás. Além disso, há muitas maneiras diferentes de fazer uma formação em roteiro. O mercado não vai se importar tanto assim com qual lugar você estudou, desde que você tenha uma base sólida. Mas onde e como estudar roteiro audiovisual para desenvolver uma boa escrita?
Como estudar roteiro: Formação Acadêmica – Graduação
A opção mais tradicional é uma formação acadêmica: Graduação em Audiovisual, Cinema ou Rádio e TV. Nas capitais e cidades maiores, existe uma diversidade de opções de faculdades privadas na área. Como é um curso um pouco caro de ser estruturado, não são todas as universidades públicas que oferecem.
Algumas faculdades públicas de audiovisual por região:
Centro-Oeste
UEG (Universidade Estadual de Goiás)
UnB (Universidade de Brasília)
UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso)
Nordeste
UFPB (Universidade Federal da Paraíba)
UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia)
UFC (Universidade Federal do Ceará)
UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)
UFS (Universidade Federal de Sergipe)
Norte
UFPA (Universidade Federal do Pará)
UEA (Universidade do Estado do Amazonas)
Sudeste
USP (Universidade de São Paulo)
UFF (Universidade Federal Fluminense)
UFES (Universidade Federal do Espírito Santo)
UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais – voltado para animação)
UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora)
Sul
UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)
UFPEL (Universidade Federal de Pelotas)
UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana)
Unespar (Universidade Estadual do Paraná)
Além do básico de roteiro, uma faculdade de audiovisual ou rádio e TV também vai abordar a produção audiovisual como um todo, o que com certeza traz um olhar mais completo para qualquer roteirista.
Como estudar roteiro: Formação Acadêmica – Pós
Se você já é formado, uma opção interessante pode ser fazer uma pós-graduação lato sensu de roteiro. Geralmente, esse curso existe apenas em faculdades privadas.
Algumas instituições conhecidas que oferecem são o SENAC e a PUC, porém vale a pena conversar com profissionais do seu estado para ver o que indicam. Essas duas instituições possuem sedes em diferentes estados do Brasil, então é possível buscar filiais e também verificar a possibilidade de cursar a distância.
Como estudar roteiro: Formação Acadêmica – Exterior
No Brasil, mestrados onde você pode se aprofundar em roteiros terão mais enfoque em pesquisa e teoria do que em desenvolvimento. Mas no exterior ele é bastante prático: você faz seu próprio projeto, escreve um ou vários roteiros, aprofunda-se no desenvolvimento da sua narrativa. Para quem necessita um auxílio financeiro nessa empreitada, existem duas possibilidades de bolsas muito reconhecidas:
2 – O Masters in Fine Arts (MFA) em roteiro de cinema nos EUA sem similar no Brasil, pela Fulbright.
Ambos programas cobrem os custos das faculdades e de manutenção dos estudantes. O programa da EICTV tem duração de um ano, enquanto o da Fulbright dura dois. Outra diferença é que, na primeira, a comissão de seleção já é da EICTV, enquanto pela Fulbright você primeiro concorre à bolsa e depois escolhe as universidades dos EUA para fazer seu processo de seleção já como bolsista. Se quiser saber mais, aqui no site tem outros artigos falando sobre a seleção.
As bolsas, porém, são bastante concorridas e muita gente talentosa acaba ficando de fora. Uma outra opção se você quiser bancar seus estudos no exterior, é optar por um Certificate em roteiro, como o da UCLA Extension, que tem um valor mais acessível do que um mestrado. O processo seletivo também é mais simples e o curso equivale a uma pós. Algumas outras universidades estrangeiras que oferecem o Certificate são a NYU e a NYFA.
Como estudar roteiro: Formação + Cursos livres
Uma outra possibilidade é fazer formações em escolas voltadas para cinema e roteiro. Algumas costumam ter cursos de formação em roteiro bem completos, que duram até um ano. Seus preços são variados, mas a maioria é mais acessível do que uma pós-graduação. Muitos dos cursos têm versões completamente online, não sendo necessário morar na mesma cidade da sede.
Existem também cursos que te preparam para atuar profissionalmente no mercado com uma formação mais específica, como, por exemplo, o curso de assistência de roteiro da Andrea 🥰.
Além disso, é crescente o número de cursos livres oferecidos, que são importantes para complementar a formação ou se aprofundar em determinados assuntos, tais como:
- Gêneros dramáticos
- Personagens, diálogo, estrutura
- Habilidades complementares, como análise de roteiro e venda de projeto
- Intersecções do roteiro com outros saberes (como psicologia, filosofia, teatro)
- Formatação e Final Draft
Ser roteirista está em alta – ou pelo menos, mais em alta do que já foi – por isso, novos cursos vêm surgindo. Vale a pena ficar ligado, conversar com pessoas que já fizeram e ver se os professores estão atuando no mercado. Alguns cursos online são ao vivo e abrem turmas em alguns períodos do ano, mas não todo o tempo.
Algumas das escolas mais conhecidas para roteiristas:
Academia Internacional de Cinema
Jornada Completa do Roteirista na Colabcine
EBAC (Escola Britânica de Artes Criativas & Tecnologia)
Como estudar roteiro: Grupos
Para muita gente a maior vantagem de fazer um curso são as trocas com professores e colegas. De fato, nada como debater ideias e ter feedbacks para desenvolver a escrita. Por isso, uma opção muito rica para aprendizagem é se juntar com mais gente.
Um clássico muito elogiado são os grupos do Marieta, que, semestralmente, promovem encontros entre roteiristas com projetos disponíveis para leitura e recebimento de feedbacks. Os grupos acontecem de forma online uma vez por semana e são pagos, mas sempre há bolsas sociais.
O Writers Room 51 também oferece um grupo para apoiadores do Catarse, com reuniões virtuais para debater roteiro e praticar pitchs, além de leituras coletivas de sinopses e loglines antes de concursos e eventos.
Se você precisa de uma atenção para um projeto específico, uma possibilidade que acrescenta muito em qualquer fase da carreira é contratar mentorias de profissionais mais experientes. Vários roteiristas têm experiências como mentores e consultores. Alguns profissionais ótimos e que estão oferecendo esse serviço são Ana Johann, Elaine Perrotte e o Writers Room 51.
E como autonomia é tudo nessa vida, sempre tem a opção de você montar seu grupo! Chame seus amigos roteiristas e se reúnam para debater os projetos de cada um. Uma dupla já é um ótimo grupo. Mas não esqueça que é essencial, em qualquer tipo de coletivo, que as críticas sejam construtivas. Se não forem, o processo todo vai causar muito mais frustração do que aprendizagem.
Como estudar roteiro: Laboratórios
De todas essas experiências, os laboratórios são os que promovem maior imersão. Você precisa desenvolver um projeto pessoal dentro do prazo combinado, então a intensidade e profundidade do aprendizado é bem grande. Além disso, os labs não abordam apenas o desenvolvimento do seu roteiro, mas também temas de mercado e vendas. Você também entrará em contato tanto com colegas quanto com profissionais mais experientes, que darão mentorias e palestras. Vamos conhecer algumas opções?
Labs Longas e Séries
BR Lab – O BR Lab Features é super reconhecido, e já conta com treze edições. Além de sua versão tradicional, o BR Lab frequentemente faz edições de laboratórios a nível estadual ou em parcerias, como o BR Lab Sebrae.
Cabíria – Lab que ocorre a partir de seleção em concurso, voltado para mulheres e pessoas trans, para projetos que já estão com primeiro tratamento de roteiro.
Cena 15 – Porto Iracema das Artes – Lab de instituto artístico do Ceará, prioriza roteiristas cearenses, mas conta também com vagas para roteiristas nordestinos e vagas para concorrência nacional, para projetos em fase de argumento.
Lab Novas Histórias – Laboratório com bastante reconhecimento do SESC, que tem edições anuais, para projetos que já estão com roteiro ao menos no primeiro tratamento.
Sesc Argumenta – Laboratório também anual do Sesc, para projetos em fase de argumento.
Lanani – Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas para Audiovisual é uma parceria entre a Globo e a FLUP (Festa Literária das Periferias), que oferece inclusive ajuda de custo para os selecionados.
Diaspora Lab – Direcionado a profissionais negros do audiovisual, esse lab tem frequência anual e oferece prêmios em dinheiro.
Visões Lab – Direcionado a histórias com perspectivas periféricas.
Pajubafest – Lab direcionado a roteiristas LGBTQIA+, que ocorre no Festival de Cinema LGBTI+ do Rio de Janeiro
Nordeste Lab – Lab que faz parte de evento de mercado audiovisual focado na região Nordeste.
Residência Base – Residência artística para desenvolvimento de roteiros em imersão em meio a natureza.
Labs de Curtas
Os laboratórios mais conhecidos são de longas e séries, mas labs de curtas também trazem muitas aprendizagens e trocas, além de premiações bem bacanas, inclusive vagas em cursos. Vamos conferir algumas possibilidades?
transforME (narrativas LGBTQIA+)
Laboratório de Projetos de Curta Metragem do Festival Curta Cinema
Goiânia Mostra de Curtas (residentes de Goiás)
Como estudar roteiro sem dinheiro?
Dar conta de toda essa formação pode parecer um desafio grande se você não conta com muitos recursos financeiros. Mas os caminhos das pessoas não são todos iguais e existem possibilidades diversas de atingir seus objetivos. Muitos cursos disponibilizam bolsas sociais em todas suas edições, como o ABC e o Marieta. Outros oferecem descontos com frequência, além de possibilidades de parcelamento. A maioria dos laboratórios tem inscrições gratuitas e alguns dão apoio financeiro para os participantes ou prêmios em dinheiro e vagas em cursos para os melhores projetos.
Uma opção também é estudar roteiro por conta própria em sites como Tertúlia Narrativa e Writers Room 51, que possuem vários artigos super completos. Outro site interessante é o Além do roteiro, que conta com um banco de roteiros para ler e consultar. Eles fornecem, inclusive uma lista de livros sobre roteiros para baixar. Alguns exemplares muito úteis são:
- Story – Robert McKee
- Como Escrever Séries – Sonia Rodrigues
- Manual do Roteiro – Syd Field
- The Virgin’s Promise – Kim Hudson
- O Herói de Mil Faces – Joseph Campbell
- Save the Cat – Blake Snyder
- A Jornada do Escritor – Christopher Vogler
Incluir ativamente é diferente de não excluir
Estamos em constante busca pelo reconhecimento da indústria audiovisual para a economia e a cultura, por isso, eventualmente secretarias culturais estaduais oferecem cursos gratuitos abertos na área a quem se interessar. A Spcine frequentemente faz uma programação de cursos ligados a roteiro e o IECINE – RS, por exemplo, recentemente ofereceu vários cursos de audiovisual online, inclusive para roteiristas, que podiam ser acessados por pessoas de qualquer parte do Brasil.
Alguns programas do governo, em parceria com instituições privadas, também oferecem bolsas de inclusão social como o RioFilme, Cinema Nosso, e a Spcine. É importante buscar informações sobre a programação da secretaria de cultura da sua região.
Por fim, se você faz parte de uma identidade historicamente marginalizada, vale muito a pena se fortalecer articulando-se junto com a sua comunidade. A APAN (Articulação de Profissionais Negros do Audiovisual) e a APTA (Articulação de Profissionais Trans do Audiovisual) estão constantemente procurando oferecer cursos e bolsas para seus membros.
Existem profissionais no audiovisual extremamente generosos, que estão buscando ativamente incluir pessoas menos privilegiadas no mercado, por isso, explique sua situação quando tiver abertura para isso. A comunicação é também a chave para conseguir conselhos, indicações e até mesmo bolsas.
Pingback: Festivais de Roteiro - Andrea Yagui
Andrea e Mar: obrigado pelos posts e conteúdos!
Listo alguns livros sobre estudos de roteiro e cinema que acho digno de compartilhar com os colegas e curiosos:
– História do cinema para quem tem pressa (Celso Sabadin)
– A odisséia do cinema brasileiro: da Atlântida a Cidade de Deus (Laurent Desbois)
– A ditadura na tela: cinema documentário e as memórias do regime militar brasileiro (Carolina Dellamore, Gabriel Amato, Natália Batista)
– O negócio do filme: a distribuição cinematográfica no Brasil 1907 a 1915 (Rafael de Luna Freire)
– Advanced screenwriting (Linda Seger)
– O herói e o ladrão (Margaret Mark e Carol S. Pearson)
– Da criação do roteiro (Doc Comparato)
– Imágenes narradas (Coral Cruz)
– Morfologia do conto maravilhoso (Vladimir Propp)
– How to tell a story (Peter Rubie e Gary Provost)
– Screening modernism (András B. Kovács)
– The way Hollywood tells it (David Bordwell)
– The seven basics plots (Christopher Booker)
– The tools of screenwriting (David Howard)
– Melodrama in contemporary film and television (Michael Stewart)
– Culturas narrativas dominantes (João Maria Mendes)
– Narrativa e modernidade: cinema de não-narrativas no pós-guerra (André Parente)
– The Hollywood standard 3a edição (Christopher Riley)
– Roteiro de cinema e televisão (Flávio Campos)
– Géneros cinematográficos (Luís Nogueira)
– Laboratório de Guionismo (Luís Nogueira)
– Kodak Essencial Reference Guide for Filmmakers
– A palavra e as coisas (Michel Foucault)
– Making film (Tristan Aronovich)
– Semiótica del texto fílmico (Desiderio Blanco)
– A jornada da heroína (Maureen Murdock)
– Hitchcock / Truffaut – François Truffaut
– Imagens – Ingmar Bergman
– A lanterna mágica – Ingmar Bergman
– Conversas com Kubrick – Michel Cement
– Conversas com Scorsese – Richard Schickel
– Conversas com Woody Allen – Eric Lax
– Conversas com Almodóvar – Frederic Strauss
– Conversas com Billy Wilder – Cameron Crowe
– Something like An autobiography – Akira Kurosawa
– Rebel Without a Crew – Robert Rodriguez
– Making Movies – Sidney Lumet
– O cinema que não se vê – Ana Paula Sousa
– Hollywood producers directory – J. Douma e D. Perez
– The Filmmakers Handbook: A comprehensive guide to digital age – Steve Archer e Edwards Pincus
– Master Shots Vol. 1, 2, 3 – Christopher Kenworthy
– Easy Riders, Raging Bulls – Peter Biskind
– Hello, He Lied… – Lynda Obst
– Kazan on Directing – Elia Kazan
– Fashion the definitive history of costume and style