Ser um assistente de roteiro dentro de uma sala já é uma experiência incrível por si só, afinal, é a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de uma série, entrar em contato com diversos profissionais experientes e ainda, ter no currículo um produto que tem a chance de ser visto por milhões de pessoas.
Mas ser assistente de roteiro também abre novas possibilidades de carreira, seja como roteirista, seja em outras áreas relacionadas à escrita. Afinal, se você faz um bom trabalho, as chances de ser contratado de novo são grandes. E se você teve uma experiência bacana como assistente de roteiro, que te possibilitou aprender bastante sobre desenvolvimento de série, o leque se abre ainda mais.
Neste artigo você vai conhecer dois assistentes de roteiro que recentemente conseguiram suas primeiras oportunidades como roteiristas de série. E eu também vou contar um pouco da minha trajetória, de assistente de roteiro à – pasmem – coordenadora de desenvolvimento.
Alex Lee
Minha primeira experiência em sala de roteiro foi numa série de animação, onde além de acompanhar o processo criativo dos roteiristas também pude acompanhar as reuniões com os storyboarders. Foram seis meses onde firmei uma relação muito legal com a showrunner.
Quando acabou, nem me passava pela cabeça que teria outra oportunidade de fazer ficção de novo, achava que era algo muito inalcançável. Acabei trabalhando por um tempo com redação de institucionais e comerciais, mas no ano seguinte, a mesma showrunner me chamou pra ser assistente novamente, dessa vez numa série da Netflix. Desde o começo ela me falou que eu teria a chance de escrever um episódio e me deu um prazo maior de entrega, além de mais etapas de revisão. Ela não só abriu a porta pra mim como segurou minha mão durante todo o processo. Isso foi vital para o que ia acontecer na minha carreira nos próximos meses.
Um dos colegas dessa sala me indicou para ser assistente numa sala da Disney+. Como já estava acostumado a participar criativamente, acabei levando esse comportamento pra essa sala também, me mostrando como um potencial colaborador criativo. Isso ajudou para que na segunda temporada, eles me convidassem pra trabalhar como roteirista.
Me senti muito mais preparado pra ser roteirista depois de ter sido assistente. Como assistente eu sempre precisei ter toda a história muito consolidada na minha cabeça porque no momento em que os roteiristas passam a se dedicar ao próprio episódio, o plano geral da trama fica mais nebuloso e era minha função relembrar o que estava acontecendo no arco geral da série. E o assistente costuma revisar os roteiros antes da entrega, então eu tinha que analisar nos mínimos detalhes os trabalhos dos meus colegas e isso me ajudou a absorver técnicas, estilos, ferramentas dramáticas. Você aprende escrevendo, mas também aprende muito lendo.
Eu ainda não acredito muito que estou vivendo essas coisas. O Audiovisual resiste aos desmontes, a precarização da força de trabalho e por aí vai, mas por ter feito faculdade de Rádio & TV e tido contato com profissionais da área, sempre olhei pra essa área com desconfiança, achava que não era pra mim. O assistente tem o privilégio de estar muito próximo dos colegas roteiristas numa posição em que pode observar e absorver antes de precisar colocar a mão na massa e isso fez toda diferença pra eu conseguir entrar num mercado tão pequeno e nichado.
Verônica Honorato
Minha primeira experiência como assistente foi maravilhosa! Aprendi muito com a coordenadora de sala e com os roteiristas. Tinha muita curiosidade sobre pré produção e como os players pensam, como eu acompanhava as reuniões de feedback, descobri muitas coisas. Uma das roteiristas da série também me deu oportunidade de escrever algumas cenas, além de me dar feedbacks e falar o que sentiu da minha escrita.
Quando essa primeira sala estava acabando, comentei com algumas pessoas da área que estava procurando uma próxima oportunidade e uma roteirista me indicou pra uma nova sala, na Discovery. Acabei fazendo as duas salas ao mesmo tempo por um período.
Eu me tornei roteirista profissional na minha segunda sala, onde estou atualmente. Comecei desenvolvendo sinopses e aplicando notas, depois fui pra escaletas e como tive um bom desempenho, assinei um episódio. Foi muito gratificante.
Eu estava com um pouco de medo, mas como já tinha lido muitos roteiros durante a sala e aplicado notas, foi tranquilo e bem natural. Acredito que ter escrito meus projetos pessoais também ajudou muito.
Com certeza, ser assistente me deixou mais preparada para escrever pois lendo todos os roteiros, participando de reuniões com o canal, vendo as notas, acabei me aprofundando mais na série em geral. Também ao fazer atas, acabei aprendendo as dinâmicas da sala, estrutura e o passo a passo.
Eu também!
Eu também comecei como assistente de roteiro! Bom, o meu caso é um pouco diferente da Verônica e do Alex, porque eu tive uma carreira de quase 12 anos como redatora de tv, antes de me jogar de vez no roteiro de ficção. Fui assistente de roteiro da primeira temporada de Cidade Invisível (Netflix) quando já tinha 37 anos. A maturidade me ajudou bastante a entender o meu papel, observar as relações e hierarquias dentro da sala e contribuir com soluções criativas e organizacionais.
Lá mesmo, saí também com um crédito de roteirista colaboradora, pois na fase final da escrita, contribuí bastante aplicando diversas alterações nos roteiros.
As oportunidades mais importantes que tive depois dessa sala vieram de indicações dos profissionais que conheci por lá. Fiz outra sala como assistente numa minissérie da Globoplay e também atuei como roteirista – mas não em sala, em projetos em desenvolvimento, escrevendo bíblias de venda e argumentos de filmes.
Mas não pense que foi só ser assistente que choveram oportunidades. Os trabalhos que fiz como roteirista foram separados por longos períodos em que nada acontecia, onde eu enviava meu portfólio, fazia entrevistas, tomava cafézinhos presenciais e virtuais e nada acontecia. N-A-D-A. Então eu também trabalhava analisando projetos, fazendo tradução, dando aulas de roteiro, preparando assistentes… Vida de freelancer né?
Hoje sou coordenadora de desenvolvimento trabalhando fixa numa produtora. Talvez pareça meio forçado dizer isso, mas é a mais pura verdade: ter sido assistente me ajuda muito nas minhas responsabilidades atuais. Porque foi na assistência que eu aprendi como uma sala funciona, que eu montei versão atrás de versão de cronograma, que acompanhei diversas configurações de processo criativo. Claro que eu preciso também de outros conhecimentos pra desempenhar esse papel, conhecimentos que vieram de experiências diferentes, mas que a assistência me ajuda, não dá pra negar.
Assim, a assistência de roteiro é um caminho não apenas para se tornar um roteirista, mas também para trabalhar em desenvolvimento, seja numa produtora ou num canal.
Por isso eu fico tão empolgada com a ideia de lançar um curso de assistência de roteiro. E o lançamento tá chegando! Para ficar informado sobre o curso e receber um aviso quando ele estiver pronto, se inscreva neste link.