Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro – Dicas pra se candidatar – Parte 2

mestrado de roteiro nos EUA com bolsa fulbright

Chegou o momento que muitos roteiristas brasileiros esperam todo ano: a inscrição para a bolsa Fulbright está aberta! Junto com ele, vem uma enxurrada de dúvidas: 

“O que devo explorar nas minhas Essays?” 

“Para quem peço as cartas de recomendação?” 

Para te ajudar com essas e outras dúvidas, conversei com os fulbrighters Naná Xavier e Elton Almeida que deram dicas valiosas de como deixar a sua inscrição mais forte.  Naná está cursando o mestrado na New York University (NYU) e Elton na American Film Institute (AFI), ambos foram contemplados pela bolsa em 2019. 

Se quiser, você consegue pular para a seção que mais te interessa, através dos links abaixo: 

Perfil do candidato

Writing Samples

Essays: Personal Statement

Essays: Objective Research

Recommendation Letters

University Preference: Encontrando seu ídolos em NY (NYU)

University Preference: Escrevendo cinema e tv em LA (AFI)

Como se organizar

Fase de Entrevista

Dicas finais

 

Perfil – Bolsa Fulbright para Mestrado em Roteiro

Naná Xavier

Naná Xavier é formada em Audiovisual pela USP. Formada, ela trabalhou com curadoria e produção de mostras no Cinusp e na Cinemateca Brasileira, mas sempre buscou trabalhar com roteiro.   

“Quando eu recebi a bolsa eu era assistente numa sala de roteiro. Não é como se eu não tivesse feito nada na área, mas também não era roteirista sênior, ainda tinha um caminho pra percorrer.” 

 

A bolsa já beneficiou tanto roteiristas iniciantes quanto os que possuem alguma experiência, é o caso do Elton. Ele já havia sido assistente de roteiro na série Samantha! da Netflix, além de ter algumas experiências como roteirista: Foi colaborador da Lov3 (Prime Video), roteirista numa comédia da Netflix, fez trabalhos de desenvolvimento em diversas produtoras, escreveu e dirigiu curtas. 

Elton Almeida

Elton também se formou em Audiovisual na USP, mas concorda que a bolsa não procura candidatos que necessariamente tenham essa formação.

Ele aponta que vários ex-fulbrighters se formaram em outras áreas, como jornalismo, e mais tarde começaram a se investir em cursos de roteiro.

“Acho que o principal é estar interessado em contar histórias e disposto a aprender o jeito americano de fazer isso.” 

 

Writing Samples – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Entre os diversos materiais pedidos na inscrição, alguns dos mais importantes são os writing samples, as amostras da sua escrita. Naná e Elton enfrentaram o desafio de enviar 5 a 7 páginas de roteiro e uma sinopse de 1 página.  

A Naná já pensava no projeto que enviou há algum tempo e o edital foi o empurrãozinho que ela precisava para escrever. Ela vê esse sample como cartão de visita do roteirista, que traduz as temáticas que ele quer explorar. Naná acredita que é mais válido ser mais honesto com suas escolhas do que apostar em algo que potencialmente agradaria a banca.  

Essa também foi uma dúvida que chegou em Elton: será que tem algum tipo de projeto que a banca se interessa mais? Será que estão procurando drama, comédia, talvez um suspense? Mas ele acabou enviando um projeto coming of age que falava sobre os temas que mais lhe interessam: juventude preta, identidade e dinâmicas familiares.

“Falando com ex-bolsistas, percebi que o importante é mostrar sua voz e escrever algo em que você esteja investido e apaixonado. Quando você faz algo de coração, que te move, aquilo transparece na página”.

 

Essays / Personal Statement – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Os Essays, ou cartas de intenção, são materiais que vira e mexe passam pela vida de um roteirista. Elas podem ser pedidas em editais, laboratórios e concursos. Para a Fulbright, elas são mais que uma carta de apresentação formal, elas precisam contar a sua história.

Em seu Personal Statement, Naná falou da sua trajetória como roteirista fugindo de clichês como: “ah, sempre amei escrever”, “quando eu era criança eu sonhava…” 

Ela fez um texto fluido, que mostrava o porquê ela era uma ótima candidata para a bolsa. Para Naná é importante incluir seus objetivos de carreira como roteirista, o que gostaria de escrever e como pretende contribuir para o audiovisual brasileiro.

Elton considera importante mostrar quem é você academicamente, mas o foco principal deve ser a história pessoal. Ele falou sobre sua relação com a literatura, da onde veio sua paixão pelo cinema e como isso tudo o estimulou a contar suas próprias histórias. 

“Falei que sendo preto, gay e de uma família classe média baixa, não vejo o tipo de histórias que quero contar ou personagens parecidos comigo na tela.” 

Para ele, tentar fisgar o leitor e criar uma conexão é o diferencial para se destacar num oceano de essays que a banca vai receber. 

“Alguns candidatos têm o primeiro impulso de fazer um texto mais frio, com linguagem acadêmica, mas acho que é um lugar para abrir o coração, ser honesto, vulnerável e emocionar. Apostar no que tem de humano na sua trajetória.”

 

Essays / Objective Research – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Além do Personal Statement, os candidatos também precisam escrever o Objective Research, onde vão falar mais sobre seus objetivos de estudo. 

Aqui, o importante é ter clareza sobre o que você gostaria de estudar especificamente, conta Naná. Em seu essay, ela expressou seu interesse no funcionamento das salas de roteiro americanas e o processo de escrita de filmes independentes em Nova Iorque. 

Tá, então se a ideia é fazer um mestrado nos EUA, eu preciso escrever uma história mais universal, certo? NÃO! “Escrever uma história que se passa no Brasil não te tira ponto nenhum, inclusive pode até acrescentar. É aquilo: quanto mais específico mais universal.” 

Elton também acredita que o Objective Research é um momento de expressar o que você quer melhorar na sua escrita. Para ele, era a estrutura das cenas, diálogos e experimentar outros gêneros cinematográficos que no Brasil não tem tanta tradição. 

Além disso, ele ressaltou como essa formação daria a ele ferramentas para usar aqui no Brasil, seja na educação, seja para adaptar os gêneros clássicos à nossa realidade.

Portanto, nesse tipo de mestrado de roteiro, é importante ser específico e honesto quanto ao que se quer aprender, pois o curso “te devolve o que você coloca nele”. Ou seja, há uma certa liberdade de escolha para o aluno, para direcionar os estudos para a área que mais lhe interessa. Isso também vai influenciar a escolha da universidade, como veremos mais pra frente. 

 

Recommendation Letters – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Para as cartas de recomendação da bolsa de Mestrado em Roteiro é importante ser estratégico e pedir cartas para pessoas que conhecem o seu trabalho como roteirista e que podem dizer o quanto você é um bom candidato. 

Naná, por exemplo, pediu para sua ex-chefe, sua orientadora da graduação e uma colega roteirista. “O objetivo não é mostrar que você conhece pessoas importantes, mas sim pessoas que possam atestar que você está levando isso a sério e vai tirar proveito dessa oportunidade.” 

Elton concorda. “Se esse grande nome não te conhece bem, não vai saber vender seu peixe. A pessoa pode escrever uma carta genérica, sem alma, enquanto alguém menos famoso consegue dar uma noção melhor de quem é você”. 

Naná conta que antes de pedir as cartas de recomendação, ela falava um pouco sobre seu projeto, assim, as profissionais tinham a oportunidade de citá-lo também.  

Elton tentou equilibrar o acadêmico, profissional e o pessoal. Uma das cartas ele pediu para a professora que orientou seu TCC da graduação. As outras duas, para roteiristas mais experientes com quem trabalhou e que o conheciam a fundo, tanto como indivíduo como no trabalho.  

“Nosso olhar sobre nós mesmos é viciado, algumas potências nos escapam. E também em quais pontos podemos melhorar. Se você já tá pronto, você não precisaria da bolsa, você vai pra escola pra melhorar.”  – argumenta ele.

 

University Preference – Encontrando seus ídolos em NY

mestrado de roteiro nos EUA

Na inscrição da bolsa para o Mestrado em Roteiro, você preenche um formulário indicando as universidades em que gostaria de estudar. E se engana quem pensa que é tudo a mesma coisa. É importante mostrar que você tem uma ideia do que vai encontrar em cada programa e por quê ele te atrai. 

Mas antes, é preciso responder algumas perguntas para si mesmo. Além de roteiros, você tem interesse por direção ou produção? Também quer escrever peças de teatro? Gostaria de explorar esquetes de comédia e stand up? 

Naná conversou com muitos ex-bolsistas, pesquisou nos sites das universidades e mandou emails para tirar dúvidas. Ela aplicou para New York University, University of Southern California, University of California Los Angeles e para a Northwestern University em Chicago. 

No fim, Naná escolheu a NYU: “Eu tenho aula com um ex-roteirista de Seinfeld, uma roteirista da Maravilhosa Mrs. Masel… são pessoas com quem eu queria ter contato e elas tão aqui. Pessoas que eu admirava saíram deste programa. Quando eu fui descobrindo essas coisas eu entendi que era pra cá que eu queria vir.” 

 

University Preference – Escrevendo cinema e tv em LA

Elton também fez sua lição de casa. “Eu sou meio nerd, então eu adoro ir pro site pesquisar, ver quais são as aulas, entrar em fóruns online onde as pessoas postam dicas dos processos seletivos…” 

Mas ele ressalta que também não são tantas as opções assim, afinal já há um histórico de programas para onde os bolsistas vão, considerando até o valor que a bolsa pode pagar. Sempre acaba ficando entre NYU, UCLA, USC, Northwestern e AFI, essa última, a escolha de Elton.  

“Eu gosto tanto de cinema quanto de tv, então a AFI me atraiu porque eu sabia que lá faria os dois ao mesmo tempo. Já na Northwestern e NYU você também escreve teatro, que não era um interesse meu.” 

Também contou a localidade, Elton queria ir para Los Angeles por ser o centro do entretenimento, onde poderia estar perto de profissionais da indústria e entender o mercado. “Você esbarra em roteirista em todo lugar e isso é muito legal. Te ajuda a focar e ter essas trocas, as pessoas falam muito sobre cinema e tv.”   

Hoje, chama atenção dele também o perfil internacional da AFI. Ele conta que fez um projeto de minissérie, onde foi simulada uma sala de roteiro. Ele e uma australiana foram os showrunners, na sala estavam um indiano e uma americana, as produtoras eram da África do Sul e de Taiwan, a fotógrafa era da Coreia da Sul… 

“Pode ser desafiador porque são expectativas e jeitos diferentes de se comunicar, mas aprendi muito. São experiências de culturas diferentes que nunca seriam possíveis no Brasil.”

Se você quiser saber mais sobre os programas das universidades e a experiência de fazer um mestrado nos EUA, leia o artigo Como é fazer Mestrado em Roteiro nos EUA.

 

Como se organizar – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Para participar do edital da Fulbright é necessário muito planejamento, afinal, são diversas etapas e cada uma exige um tempo de preparação. Naná e Elton  deram dicas essenciais para se organizar. 

Naná começou literalmente pelo começo: leia o edital! Inteiro, de cabo a rabo! Desse jeito você poderá elucidar as dúvidas que podem surgir no meio do caminho. 

A segunda dica é fazer uma lista de tudo o que você vai precisar e dar check em cada etapa vencida. Elton já tem seu processo, depois de muito se inscrever em editais no Brasil: “Eu preciso ter minha agendinha, minhas metas da semana, deadlines, senão me perco.” 

 

Exame de proficiência e Writing Samples são prioridades

Tanto Naná quanto Elton concordam que a primeira providência é marcar o exame de proficiência do inglês. Isso porque nem sempre há muitas vagas ou datas disponíveis para fazer a prova, a própria Naná teve que viajar para outra cidade para realizar o teste. 

Além disso, o resultado demora pra sair – ou seja, você pode fazer a prova mas não ter o resultado para apresentar a tempo na inscrição! Mas caso você não consiga a pontuação necessária, se tiver bastante prazo, é possível até prestar a prova de novo e conseguir uma nota melhor. 

A Fulbright aceita dois tipos de teste, o TOEFL e o IELTS, que são bem diferentes na forma, preços e datas. Elton fez vários simulados das duas provas para entender em qual iria melhor e acabou optando pelo IELTS, uma prova mais curta e que na época, era aplicada em papel. 

Com o exame de proficiência agendado, a preocupação foi para o writing sample. Elton dedicou bastante tempo para escrever a sinopse e as páginas de roteiro. Ele terminou de escrever a primeira versão faltando um mês para o fim da inscrição e usou esse tempo para revisão. 

O mais difícil para Naná foi escrever a sinopse. Contar o arco da história e os pontos de virada em apenas uma página exigiu tempo. “Um erro possível de se cometer é contar só um teaser do projeto e não contar o final. Você precisa contar a história inteira. A minha dica é focar nesse material”, conta. 

Ambos trabalhavam em tempo integral na época e precisaram de muita disciplina para escrever os seus materiais, estabelecendo datas e prazos, podendo contar apenas com o tempo livre durante a noite e nos fins de semana.

 

Entrevista – Bolsa Fulbright pra Mestrado em Roteiro

Depois que todos esses materiais são enviados na inscrição, há uma seleção e apenas alguns candidatos são chamados para a fase da entrevista presencial com a banca em São Paulo. 

A dinâmica foi a mesma para Naná e Elton. A banca era composta por 3 ex- bolsistas da Fulbright e 1 representante da CAPES. 

Naná estava bem nervosa, mas assim que entrou na entrevista se sentiu mais calma. Ela ressalta que é importante não se deixar levar pela pressão, porque passar para a fase de entrevista significa que seu material agradou a banca. Elton teve a mesma sensação, estava nervoso mas depois encontrou um clima bem mais confortável do que havia previsto. 

“Não seja duro, acadêmico, quadradinho… a entrevista foi uma conversa, então foquei em me comunicar, me conectar.” – diz ele.

Neste ponto, a banca já leu todos os seus writing samples, essays e cartas de recomendação, então é preciso estar preparado para responder com mais profundidade o que foi exposto ali.

Por exemplo, a banca questionou o fato de Naná já ter dado aulas para roteiristas iniciantes. Se já estava ensinando, por que precisaria da bolsa? “Eu respondi que ainda tinha muito para aprender, principalmente para no futuro dar aulas melhores. É uma formação contínua, né?” 

A banca também perguntou sobre os temas que ela gostaria de explorar e como ela vê a carreira daqui a alguns anos. Neste ponto, é importante mostrar seu potencial de crescimento. Afinal, se você já está pronto e não tem nada pra aprender, talvez não seja o melhor candidato. Elton complementa: “É importante mostrar o quanto o mestrado vai impactar sua carreira.”

 

Dicas finais

Para finalizar, a última dica da Naná é: tenha cuidado com a administração do tempo! É importante disciplina, e se em algum momento parecer que não vai dar tempo, confia, que vai dar sim. 

Já Elton ressalta a importância de focar nos writing samples. Faça uma sinopse com começo, meio e fim. Mostre que você sabe criar um arco de personagem, que ele passa por um processo e aprende algo no final. “E principalmente, tente suscitar alguma emoção em quem está lendo.” 

 

As inscrições para bolsa vão até dia 20 de maio e você pode ler o edital neste link.

Em 2018, esse mesmo artigo foi feito com as dicas de outras bolsistas, para ler, é só clicar aqui. 

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